quarta-feira, 2 de março de 2011

Educar a mãe à facada

O título é sugestivo e a facada é real.

Devem ter ouvido/lido sobre este acontecimento que já não é de hoje. Na altura não escrevi sobre esta situação passada entre um filho e sua mãe (situação=facada), mas agora vou buscar as letras de José Quaresma, que escreve para o Expresso.

Este texto desenrola-se e vai dar à mensagem que já deixei aqui há um tempo atrás, acompanhada por um texto de Adriana Campos.

Um "não" é difícil de manter, e um "sim" é muito mais "porreiro": não se traumatiza o menino nem este se sente inferiorizado por não ter.

Esta mãe "traumatizou" o filho, que teve que recorrer a uma emboscada (sim, não foi num momento de fúria "descontrolada") para apanhar a mãe de surpresa e esfaqueá-la.

Sem mais delongas, eis o texto:


"Em Cascais, um rapaz de 13 anos esfaqueou a mãe porque esta lhe tirou a playstation e lhe impediu o acesso à internet. Passaram duas semanas. O assunto, no plano mediático, morreu logo. No plano educativo não merece este acentuado arrefecimento soturno da comunicação social.


O episódio é edificante. E mais facada, menos facada, deveria pôr de sobreaviso pais e educadores. Declaro solenemente que, na minha pudibunda opinião, a internet, a playstation e a faca de cozinha não tiveram culpas no cartório.

Este jovem tinha maus resultados escolares. Os pais castigaram-no. Impediram-no de jogar playstation e de navegar na internet. Revoltado, foi comprar, à revelia dos pais, um periférico de acesso à internet. E, não satisfeito, armou-se de faca de cozinha. Emboscou-se à porta de casa, esperou a mãe que regressava das compras, desferindo-lhe várias facadas nas pernas, na cabeça e no tronco. Quiçá, agora sou eu a pensar mal, para treinar com mais realismo algum dos jogos da sua playstation.

O incidente, exceptuando a violência, é mais comum do que parece. Este só não teve consequências mais dramáticas porque, decerto, alguns órgãos vitais da mãe estavam fora do sítio. Ou porque, felizmente, o rapaz tem mais destreza nos treinos virtuais da playstation do que nos exercícios reais de faca de cozinha em riste. Ou então houve, ali a desviar o curso da lâmina, a mãozinha de Deus.

Não conheço estes pais. Mas conheço outros que, ao longo dos anos, têm sido muito bem educados pelo filhos. Os pais desconhecem, apesar disso, coisas elementares da educação que recebem dos herdeiros. Eu também sofri com as tentativas dos meus filhos desde a sua mais tenra idade. Presumo que, apesar de muitos erros que cometi, permaneci muito mal educado.

Um filho, a partir da primeira infância, é muito carente. E insaciável. Por esta razão, os pais devem dar-lhe tudo. Nem que tenham de pedir emprestado, endividar-se, roubar. Quanto menos se dá, menos carinho o filho recebe. Carinho é um brinquedo. Quanto mais sofisticado for, maior é o amor maternal ou paternal. O filho não tem de dar nada em troca. Só tem direitos. Deveres têm os pais.

Muitos pais continuam a não compreender que uma playstation, a partir do momento em que é ofertada no Natal ou em dia de aniversário, constitui posse e usufruto pleno do petiz. E, mais do que isso, extensão física, corpórea, parte integrante da sua individualidade. O confisco, de um objecto destes, corresponde a extirpar um braço do corpo da criança. Não se faz.

As horas infinitas que um jovem passa diante do monitor, com a aquiescência dos pais, esquecendo trabalhos escolares e testes, rotinando o cérebro nesta e noutras dependências, conferem-lhe poderes absolutos. E os pais, enquanto pequenino, admiram-lhe a inteligência. Mais tarde, estranham-lhe os vícios ou os descaminhos.

Nunca se deve dizer "não" a uma criança. A palavra "não" devia ser banida do dicionário. Traumatiza. A palavra "sim" é muito mais pródiga. Transforma um petiz num imperador. Faz do adulto, pai ou mãe, seu serviçal cordato e dócil. Não é mais interessante?

A criança, quando chegar à idade da razão será uma egoísta feroz. O mundo começará e acabará nela. Incapaz de lidar com a frustração descarregará o seu infinito amor sobre quem estiver mais à mão, os pais e familiares próximos, os amigos e, por fim os desconhecidos. Serão amigos de muita gente. E, não raramente, amigos do alheio.

A vida não se irá moldar a um jovem que tentou, e conseguiu, educar os pais à sua maneira. Mas ele tentará moldar a vida como puder. À facada, à catanada, a tiro, nas suas formas mais severas. À picada, à charrada, ou emborcada, nas suas vertentes mais celestiais.

Mas também há quem não enverede por nenhum destes percursos e permaneça são, e praticamente imortal, a viver à conta dos pais para lá dos cinquenta anos de idade. Sempre jovem. Jovem de espírito. Com alguém, da santa família, a alimentar-lhe o corpo. Eu sei que há excepções. E muitas.

Mas não é este o resultado da educação perfeita que muitos pais consentem receber dos seus rebentos iluminados e adorados?"

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