terça-feira, 1 de março de 2011

E será que todos responderam bem?

Gosto principalmente da parte final do texto:

"Claramente, está a preparar o alargamento da escolaridade obrigatória para doze anos através do lamentável caminho que vem sendo seguido até aqui: o caminho da facilidade progressiva."


Carlos Fiolhais, no Jornal Sol, mostra-nos o seu desagrado com o teste intermédio de Física e Química A, do 11º ano. Até que ponto vamos facilitar nos testes e exames para conseguirmos resultados positivos (ou melhor, classificações positivas, porque os resultados conseguidos com perguntas destas não são positivos, são básicos)?

E será que todos responderam bem?



"O ensino das ciências: de mal a pior

O Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação, que já tem deixado passar erros em várias provas nacionais, não pára de nos espantar. Agora resolveu, num teste intermédio do 11.º ano da disciplina de Física e Química A, repito, do 11.º ano, fazer uma transcrição de um livro meu (Física Divertida, Gradiva, 1991), com apenas quatro linhas mas adaptada (adaptada?), e pedir aos alunos para transcrever (sic) uma informação trivial que se encontra no texto. Queria tão só que os alunos fizessem uma transcrição a partir da transcrição que o Gabinete tinha feito, como se apenas estivesse interessado em saber, num teste de Física do secundário, se os jovens sabiam o que significa aquela palavra. Talvez o ministério venha um dia a pedir, para poupar esforço e tinta, que os alunos sublinhem uma frase a fim de obterem toda a pontuação. E talvez inclua nos testes de Física um glossário com o significado das palavras usadas nos enunciados.


A Divisão Técnica de Educação da Sociedade Portuguesa de Física ficou justamente indignada com aquela prova:

«A questão 1 do Grupo I na qual o aluno deve transcrever a parte de um texto, de apenas 4 linhas, que refere o que Oersted observou, não é admissível neste ano de escolaridade. Esta questão pode ser respondida por um aluno do 2.º ciclo do ensino básico que nunca tenha estudado o assunto abordado [...]. Este teste intermédio dá indicações erradas aos alunos sobre as suas aprendizagens e não os estimula ao esforço que é necessário para que sejam atingidos os objectivos de aprendizagem da disciplina».

Para que o leitor julgue por si próprio, com este exemplo singelo, o estado do nosso ensino das ciências, deixo o pedaço do meu texto que foi usado pelo Ministério da Educação:

«Durante algum tempo o magnetismo e a electricidade ignoraram-se mutuamente. Foi só no início do século XIX que um dinamarquês, Hans Christian Oersted, reparou que uma agulha magnética sofria um desvio quando colocada perto de um circuito eléctrico, à semelhança do que acontecia quando estava perto de um íman. Existia pois uma relação entre electricidade e magnetismo».

E deixo a pergunta que o Ministério colocou aos alunos: «Transcreva a parte do texto que refere o que Oersted observou».

Podia ter-lhes, ao menos, pedido para usarem palavras suas. Ou para interpretarem o que Oersted observou, tal como o próprio fez. Mas não. Escolheu o mais fácil. Claramente, está a preparar o alargamento da escolaridade obrigatória para doze anos através do lamentável caminho que vem sendo seguido até aqui: o caminho da facilidade progressiva."


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Abraço!

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