Interpretem como quiserem, são bem discutíveis estas palavras. Não sei se rio com a sátira ou me desiludo com a falta de informação (ódio?), ainda não percebi a intenção do autor. Mas eu sou das "ginásticas"... Como diria uma nossa colega: "Não é melhor ser outro a fazer a acta? É que o colega é de Educação Física..."
Os professores andavam sossegados. E não estavam a ser avaliados. A não ser os infelizes migrantes dos contratos a prazo. Agora rejubilaram. A avaliação, que estava contratualizada e aquietada entre ministério e sindicatos, até ao fim de 2011, passou para a desordem do dia. Graças a esta amorável sintonia ideológica que transforma inimigos fidagais em amigos do peito.
A deliberação de chumbar a avaliação, de duvidosa constitucionalidade, colheu o beneplácito, sempre isento e razoável, dos sindicatos que nunca estão acorrentados a nenhum partido do arco parlamentar. Nem mesmo a Fenprof de Nogueira que, com aquele bigode de estalinho, há-de ter saudades, daqui a 20 ou 30 anos, do tempo em que dava aulas. O sindicalista não esqueceu a matéria. Pelo menos, a matéria salarial dos docentes que não consegue impedir que vá mirrando.
É preciso compreender que os professores não precisam de avaliação. E nem a apreciam. Fogem dela, se puderem, como o diabo da cruz.
A missão de um docente é avaliar. Não é ser avaliado. É mais estimulante classificar uma chusma de alunos do que sujeitar-se ao olhinho impiedoso de um colega, autoritário e ressabiado, que devassa o espaço da turma em aulas assistidas.
Um relatoriozinho, muito auto-encomiástico, em que o docente afirme que não é o melhor do mundo, mas anda lá perto, é mais do que suficiente. Até é excessivo para avaliar as verdadeiras competências. Para não subir numa carreira, que nem o aquecimento global descongela, não era preciso mais.
E, se o docente for de uma área científica pouco dada a humanidades, e tiver dificuldades na ortografia, então que mal faz pedir uma ajudazinha profissional a uma colega - que só não é o Alves Redol do século XXI porque o neo-realismo caiu em desuso - para lhe fazer a prosa escorreita do inventário das pujantes actividades que desenvolveu durante o ano lectivo?
Os deputados muito afins, nesta votação, prestaram um bom serviço. Acabar com a avaliação dos professores é um imperativo moral e cívico. A democracia precisa deste elevado sentido de consciência social. Se ninguém, em parte alguma do país é avaliado, por que carga de água os professores deveriam sê-lo? Não somos todos iguais?
Imaginem se, durante uma normal legislatura de quatro anos, fosse possível avaliar, com consequências impiedosas, a produção dos deputados? Sim, aqueles que, na sua esmagadora maioria, ninguém sabe o que fazem para além de assentirem ao primeiro sinal do chefe da bancada. Seria uma maçada, um incómodo, um transtorno democrático.
Avaliação dos docentes para quê? Acabe-se de vez com ela. É preciso sentido de oportunidade. E o PSD, o CDS, o BE e o PCP, tiveram-no. Vozes ao alto, vozes ao alto, unidos como os dedos da mão, Jerónimo, Louçã, Portas e Passos, deram bom exemplo à grei. Regressa a esperança. Portugal tem futuro. Não é preciso ter Spínola na garganta para o entender.
Que a próxima legislatura não seja como esta, uma sorte de coito interrompido. O interrompido é um bom método. Mas não é seguro.
Os professores só têm de agradecer a harmonia duradoura entre os partidos, da extrema-esquerda à direita, a pretexto da rejeição do peque quatro. É certo que o PS ia embalado no peque muito. E Deus castiga.
Os docentes são uma força. Andam sobreavaliados. Basta. É que, nestas eleições antecipadas, mais de uma centena e meia de milhar de votos podem acudir, a alguns acólitos anónimos parlamentares, para manterem morno o coiro dos assentos da Assembleia, na próxima legislatura.
Em tempo de crise, há que apadrinhar uma ocupaçãozinha de jeito a quem dela precisa. A vida está difícil. O rating anda a ratar, e muito, na vida dos portugueses. E o Parlamento é, cada vez mais, um refúgio de segurança, probidade, coerência, vida airosa."
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