"A (Re)educação de Portugal
Aturdidos ainda pelo que resta da política educativa de Sócrates,os professores aguardam as novas medidas para o sector, não sem alguma desconfiança, pois o paradigma anterior parece condenado à extinção
De facto, os docentes experienciaram e implementaram uma política que assentava inicialmente em premissas válidas de qualificação e formação dos portugueses, de alargamento das oportunidades a quem não as teve, ou a quem não soube, no momento certo, tirar o devido partido das possibilidades que a escola lhe oferecia. Digo que as premissas eram válidas porque (centrando agora o discurso no fenómeno das Novas Oportunidades) é perfeitamente legítimo que, mediante esforço e empenho pessoais, alguém consiga adquirir em contextos paralelos ao da Escola, um conjunto de competências significativas, facilmente equiparáveis ao perfil de competências de quem possui o 9º ou o 12º anos de escolaridade. Não será já tão legítimo que, por razões meramente políticas e eleitoralistas, se desvirtue um esforço nacional sério, banalizando-se aquilo que deveria continuar a ser o paradigma - as competências e o saber.
No entanto, não foi só ao nível da iniciativa Novas Oportunidades que esta tendência facilitista se fez sentir. Também a escola (no sentido tradicional do termo) foi alvo desta frente tecnocrática de redução de ideias válidas a uma política meramente eleitoralista. Os exames nacionais, desprovidos do mais pequeno vislumbre de pensamento crítico, em muito contribuiram para uma falsa ideia de sucesso. A impreparação é cada vez mais gritante (uma vez salvaguardadas as devidas excepções a uma regra que tem vindo a ser cada vez mais preocupante), facto corroborado pela abertura de anos zero nas universidades.
Nas escolas profissionais, onde as turmas são, não raro, formadas sem critério (com a preocupação exclusiva, ou pelo menos preponderante, de conseguir mais financiamento) agrupam-se sem enquadramento pedagógico ponderado (diria mesmo, amontoam-se) formandos que sempre mantiveram com a "Escola Oficial" uma relação problemática (em parte motivada pela degradação sócio-económica que quotidianamente vivem, pela ausência de expectativas e pela aridez de sonhos). Dizer que esta população atinge com sucesso os objectivos que a formação persegue é, à semelhança do que se verifica nos CNO (Centros de Novas Oportunidades), um branqueamento da verdade, dado que os conteúdos ministrados nestes cursos são uma paródia ao ensino regular; uma paródia que entretém, mas que não forma.
O cenário afigura-se grotesco. Ainda assim, conseguem encontrar-se iniciativas interessantes, projectos válidos que procuram combater esta água morna em que se transformou o ensino em Portugal. O que aí vem será melhor? Conhecemos algumas das ideias gerais que os partidos do poder traçaram para a Educação. Conhecemos os argumentos do mérito, da disciplina, do trabalho e do empenho (transformados, aliás em linhas programáticas pelo actual governo). Mas, com cortes esperados em todos os sectores, a que não escapará também a educação, não se limitarão as reformas a meros mecanismos de corte de despesa?"
Visão
Abraço!
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