Menos Desporto Escolar

Este artigo do Jornal i  já é da semana passada, mas não o dei logo a conhecer. Isto porque decidi dar-lhe mais atenção, pois na primeira leitura encontrei informações que não estão totalmente correctas ou que podem levar a enganos.


Por vezes os jornalistas não conhecem bem a área sobre a qual estão a escrever, por vezes são mesmo incompetentes (o que não acredito muito sendo do jornal em questão), por vezes são preguiçosos a pesquisar ou têm a pressão das datas... o que é certo é que podem surgir notícias com incorrecções ou com lacunas.


Assim, quase como numa tarefa de um teste de interpretação/explicação do texto, vou escrever algumas notas entre os parágrafos da notícia, realçados a azul para poderem distinguir.

"A partir de agora, será preciso começar do zero. Todos os projectos de desporto escolar estão suspensos e vão ser reavaliados pela tutela que vai dar prioridade aos que foram capazes de promover campeonatos desportivos entre os agrupamentos. Tudo o que não seja competição será estudado caso a caso pelo Ministério da Educação. - Entram para os campeonatos as equipas que têm quadro competitivo. Este não é elaborado pelas escolas mas pelos responsáveis pelo Desporto Escolar da área.

Penalizações para as escolas que não atinjam o número mínimo de alunos por equipas ou menos um tempo lectivo de 45 minutos para desportos de competição e modalidades apoiadas pelas autarquias e federações são também algumas das novas regras ontem publicadas em Diário da República e que podem vir a significar menos professores de educação física, menos horas para os alunos praticarem desporto e também menos oferta de modalidades desportivas. - E menos horas para os outros professores que também podem ter equipas a seu cargo. Também não se esqueçam que os professores de Educação Física dos quadros continuam na Escola e vão ter que fazer mais alguma coisa para compensar a falta de horas... Ficam TODOS a perder! O número de alunos já era tido em conta.

As normas são para ser cumpridas a partir de Setembro e dividem os directores de escolas. Enquanto a Associação Nacional de Dirigentes Escolares teme que o despacho penalize sobretudo os alunos, o Conselho de Escolas defende que os novos critérios impõem uma maior disciplina aos agrupamentos que até agora tinham "poucos obstáculos" para verem aprovadas as suas candidaturas, usando o crédito máximo de horas permitidas para o desporto escolar. - Saliente-se que não é só quererem. Apresenta-se o projecto que tem que ser aprovado pelos responsáveis do Desporto Escolar fora da Escola!

"Menos 45 minutos por semana para cada equipa pode parecer uma insignificância mas terá um impacto enorme que vai variar de agrupamento para agrupamento", avisa Rui Bettencourt, membro da associação de dirigentes escolares, usando o caso das escolas de Cinfães para demonstrar o que vai mudar no próximo ano lectivo. "No meu agrupamento com 700 alunos, essa mudança significa uma redução global de sete tempos lectivos", explica o professor de educação física. 

Contas feitas, o corte será de 25% sobre o total de 28 tempos lectivos que o agrupamento dispõe actualmente para o desporto escolar: "Ao diminuir o tempo, reduz-se igualmente o número de professores - entre dois a três docentes - o que implica menos oferta nas modalidades desportivas", alerta Rui Bettencourt.

O presidente do Conselho de Escolas, por seu turno, está convencido de que a maior "rigidez" das novas regras permite não só racionalizar os recursos como obrigar as escolas a serem mais criteriosas nos seus objectivos: "Penso que este despacho veio de certa forma moralizar uma prática de uma boa parte das escolas habituadas a solicitar créditos de horas para o desporto apenas para completar o horário dos professores de educação física." - Já me referi a isto atrás: não são só os professores de Educação Física que podem ter equipas. E se estes não têm Desporto Escolar vão ter outras tarefas equiparadas a tempo lectivo... E não é só querer: há limites, regras, aprovações que não dependem das Escolas!

Suspensos. Concorde-se ou não com estas mudanças, o certo é que todos os projectos de desporto escolar estão suspensos e os agrupamentos têm uma semana e meia para apresentar à tutela as novas candidaturas. Os prazos são apertados porque as escolas precisam de conhecer quais os projectos e créditos de horas aprovados pelo ministério até ao fim deste ano lectivo. 

Só que, adverte o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, poucos serão os que vão conseguir respeitar este calendário. 

"Temos até 15 de Maio para reformular ou criar de raiz os projectos, isso é impraticável", critica Adalmiro da Fonseca, censurando também o facto de as escolas serem "penalizadas" sempre que não atingirem o número mínimo de alunos por equipa. Às escolas que não conseguirem constituir equipas com pelo menos 18 estudantes nas modalidades colectivas ou individuais serão retirados os créditos de horas no próximo ano lectivo." - Cuidado com os cortes cegos com vista às poupanças: uma escola/agrupamento pequeno tem mais dificuldades em ter alunos em número suficiente nos grupos de Desporto Escolar. E como são organizados os horários das Escolas? Permitem que existam horas em que determinados alunos de várias turmas possam estar "livres" em simultâneo para esta actividade? E a capacidade de poderem despertar os alunos para modalidades menos conhecidas, logo, com menos adesão? Deixam de poder dar aos alunos este tipo de oferta? São mil e uma situações que devem ser tidas em conta... racionalizar? Estou de acordo! Cortar indiscriminadamente para poupar? É grave!






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