segunda-feira, 5 de setembro de 2011

MEC quer descentralizar as colocações

Já se esperava tais medidas, mas agora estão a ser mais "faladas".

Aumentar a autonomia das Escolas e dar-lhes, nessa autonomia, liberdade de contratar os professores.

Este é um assunto que preocupa muitos. Eu acredito que tem vantagens que superam as desvantagens.

Já defendi esta possibilidade anteriormente. Se a Escola tem possibilidade de escolher tem lógica que queira escolher os melhores. Mas essa lógica não é assim tão lógica (desculpem-me a "tripla lógica").

Tal possibilidade pode ser um "presente envenenado" para as Escolas: não estão preparadas para receber não sei quantas mil candidaturas, fazer uma triagem, escolher os melhores segundo critérios que muitas vezes são discutíveis, lidar com contratações de vários grupos em simultâneo  e outras coisas que tais.

Algumas situações que podem acontecer:

1 - E eu concorro só a uma Escola? Claro que não. E se me seleccionam para uma e no dia seguinte estou seleccionado para outra, melhor do que a 1ª? É que estes concurso serão quase simultâneos em milhares de Escolas. Não é como um empresa que precisa de Engenheiros e publicita a oferta e, no máximo, existem mais umas 10 de outras empresas em simultâneo.

2 - O que é isso de "melhor"? Quem tem mais tempo de serviço? Quem acabou o curso com melhor nota? Quem tem cartas de recomendação? Quem teve melhor avaliação? Não é fácil... eu, tal como muitos, já fui colocado em Agrupamentos num horário de "restos", com colegas que ninguém respeita como profissionais, que faltam mais do que aparecem, que "dão a bola" aos putos e não querem saber, etc e tal, e no entanto lá estão a ganhar o deles sem se chatearem muito...

3 - As cunhas. É o filho do Presidente da Câmara, é o irmão da amiga do Director, é o amigo, o primo, o conhecido, o filho de...

E estas são só algumas.

Mas ao fim de algum "treino" o processo de recrutamento pode melhorar.

Se o MEC pedir os resultados em função desta liberdade de contratação, como é que se justifica ter contratado um incompetente só porque tinha cunha? E mesmo que haja a cunha, há cunhas para todos os postos de trabalho? E depois de entrar em paralelo com um colega "cunhado", no ano seguinte se não houver vaga para os dois quem é que fica? O Competente? Eu quero acreditar que o trabalho, empenho e dedicação são compensados...

Se usam o critério "X" e não conseguem os melhores, porque não usar o "Y" que pode ser mais fiável?

Se oferecer melhores condições de trabalho atraio os mais competentes? (A nível de vencimentos não se deve poder alterar muito, deve continuar a ser "centralizado". Mas podem oferecer um horário mais racional, podem ter um grupo de trabalho mais dinâmico, podem ter um clima de convivência mais salutar e mais isto ou aquilo).

A mensagem vai longa, vou resumir: acredito que este sistema favoreça os merecedores dos lugares. É um sistema que vai ter muitas falhas, mas o actual também tem.

Ver o contrato renovado por ser competente é um meio para querer continuar a fazer bem ou ainda melhor. Ter colocação só porque tenho sorte (sim, grande parte é sorte - não é tudo, mas...) e tenho arranjado horários completos e anuais, não faz de mim mais competente.

E agora a parte da notícia do Correio da Manhã que refere este tema:

"MINISTRO QUER DESCENTRALIZAR AS COLOCAÇÕES
Nuno Crato pretende que a colocação de professores seja "mais descentralizada", defendendo que um professor em Bragança não deve ser nomeado pela 5 de Outubro. João Dias da Silva, líder da FNE, segunda maior estrutura sindical de docentes, admite "a possibilidade" de serem as escolas a contratar os docentes, mas defende que "actualmente não há condições para uma mudança tão radical". "Não estamos convencidos de que um modelo tão descentralizado seja o melhor. Pode haver soluções híbridas. Mas esta história de milhares de professores no desemprego nesta fase tem de ter um fim."

Abraço!

2 comentários:

  1. Manda-me o bom senso ter algum lento na língua uma vez que o peixe morre pela boca...ocultarei parte do que me vai na alma, mas se com os concursos da forma como são concretizados há "cunhados" fará se forem descentralizados, a não ser que de norte a sul os critérios sejam obrigatoriamente os mesmos, mas assim ser fica tudo na mesma, apenas dificulta a vida aos professores uma vez que concorreremos para todo país...
    Pobre professor que seja natural do interior(como eu), que passaria uma vida inteira à espera de uma primeira colocação...Em contrapartida algumas zonas deviam mesmo ter carência.
    Abraço

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  2. Actualmente a forma como os professores são colocados é a menos má e a mais viável, todas as invenções que se seguirem só piorará o cenário, e servirão apenas para salvaguardar determinadas clientelas, é o compadrio total, mas não me admiro que dentro de alguns anos seja assim, pois o nosso país é visto na Europa como o mais corrupto, onde a ausência de justiça e bom senso é algo que não reina por estas paragens, onde as pessoas não são escolhidas para os postos de trabalho pelas suas capacidades, mas sim pela "cunha". O resultado é um país triste, sem produtividade nem qualidade nos produtos ou serviços produzidos, tanto no que respeita ao Estado como às empresas privadas.

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