"Emigrar será um bom conselho? Parece que não...
Primeiro-ministro diz que a emigração poderá ser uma alternativa para os professores que não tenham trabalho nas escolas e até sugere "o mercado de língua portuguesa". Sindicatos e docentes não compreendem as afirmações.
As declarações do primeiro-ministro agitaram as águas. Passos Coelho, em entrevista ao Correio da Manhã, admitiu que a emigração poderá ser uma alternativa para os professores que não têm trabalho, chegando a sugerir que Angola e o Brasil são bons destinos para partir. "Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm, nesta altura, ocupação. E o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma, ou consegue, nessa área, fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa", referiu.
As reações não se fizeram esperar. A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) ficou indignada com as afirmações de Passos Coelho. "Dizer que têm de emigrar é uma falta de vergonha imensa", comentou Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, à Lusa. E deixou uma sugestão: "Penso que o senhor primeiro-ministro podia aproveitar e ir ele próprio desgovernar outros países e outros povos. Não desejo, no entanto, que esses países e esses povos sejam os nossos irmãos de língua portuguesa".
Manuela Mendonça, coordenadora do Sindicato dos Professores do Norte e dirigente da FENPROF, refere que as declarações de Passos Coelho são "surpreendentes" e "muito infelizes". "Portugal tem grandes problemas estruturais ao nível da educação e, portanto, não pode prescindir de professores", sustenta ao EDUCARE.PT. O discurso político, na sua opinião, deveria ser feito ao contrário. Se há insucesso escolar, se há taxas preocupantes de abandono da escola, os docentes deviam ser incentivados a ficar para "ajudar o país a crescer".
As declarações do primeiro-ministro têm várias leituras para Manuela Mendonça. "Mostram que não há confiança e esperança no futuro e uma incapacidade de resolver os problemas do país." E comprovam, em seu entender, que as medidas de austeridade que têm vindo a ser implementadas, ao invés de resolver algumas questões, vão agravar a crise e as dificuldades. "Este Governo não tem uma estratégia para a saída da crise. Não há saída da crise que não passe por mais e melhor educação", defende. Dizer aos professores para emigrarem, que não são precisos no seu país, é algo que choca, na sua opinião. "É um atestado de desistência do país e de quem nos governa, de quem já não acredita num futuro melhor."
Para Armindo Cancelinha, da Associação Nacional de Professores (ANP), as afirmações do primeiro-ministro são um "balde de água fria", "uma machadada" nas expectativas de quem quer e gosta de ensinar. "Não consigo compreender como é que o primeiro-ministro quer promover o desenvolvimento de um país e diz aos jovens professores que terão de emigrar", refere ao EDUCARE.PT. "Era importante que fosse definido um currículo europeu que possibilitasse aos professores exercerem a sua atividade, no espaço europeu, mas de livre vontade", acrescenta.
De qualquer forma, a ANP teme que o cenário piore para os professores no próximo ano letivo. Os cortes nos salários, nos subsídios e a reorganização curricular poderão significar mais desemprego para a classe docente. Mesmo assim, Armindo Cancelinha considera as declarações de Passos Coelho "incompreensíveis". E os países que sugere não lhe parecem os mais indicados no atual contexto. "Angola é uma sociedade em convulsão e no Brasil há grandes dificuldades em termos de segurança."
Manuela Sousa, professora do 1.º ciclo, tem ouvido atentamente os comentários sobre as declarações do primeiro-ministro. Regra geral, concorda com o que os comentadores têm vindo a dizer aos órgãos de comunicação social. "Foi uma afirmação infeliz", comenta ao EDUCARE.PT. "Em vez de incentivar ou desenvolver o emprego do país, está a mandar os professores para fora, e isso é que é grave". Até porque o dia a dia mostra-lhe que as escolas precisam de mais docentes. "Neste momento, estamos com falta de professores, professores de apoio, e só quem anda nas escolas é que se apercebe disso", garante. Portanto, emigrar não é a solução. "Mais uma vez, rebaixam-se os professores, diz-se que eles não são importantes para a sociedade, em vez de se criarem mecanismos para promover o emprego."
O secretário-geral do PS, António José Seguro, ficou "profundamente chocado" com as declarações do primeiro-ministro. "Significa que é um primeiro-ministro que está demissionário, que está passivo e de braços caídos", reagiu, lembrando que esta não é a primeira vez que o Governo aconselha os portugueses a emigrar. "Estamos a falar de professores, jovens, nos quais o Estado investiu bastante na sua qualificação. Gente qualificada, com inteligência, que está disponível para dar o seu melhor ao país", afirmou o líder socialista."
Educare
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