Também não considero escandaloso, mas dito da forma que foi dito e pela pessoa que o disse...
"Onde está o escândalo?
João Cândido da Silva
Perante a crua realidade, adquirir uma qualificação é relevante, mas assegurar a empregabilidade e estar disponível para aprender a executar novas tarefas é ainda mais importante. E, por mais que custe admitir, isto não é válido apenas para os docentes.
Nos últimos anos, Portugal foi terreno fértil para semear e fazer crescer todo o género de ilusões. Da prosperidade baseada numa espiral de endividamento ao fim da necessidade de procurar soluções profissionais para lá das fronteiras nacionais, houve de tudo um pouco na promoção de sonhos e miragens que estouraram como bolas de sabão.
O futuro era tão radioso que o País se podia orgulhar de ter passado de uma nação de emigrantes para local de acolhimento de imigrantes em busca de uma carreira e de uma vida melhores. Mas o desenvolvimento era apenas aparente e assentava em pés de barro. Agora, não só os cidadãos estrangeiros estão a regressar às suas origens, motivados pela falta de perspectivas em território português, como o fenómeno da emigração regressou e vai subtraindo a Portugal gente qualificada, mas também mão-de-obra indiferenciada a que o mercado de trabalho não fornece respostas.
Esta tendência tem um motivo óbvio. A economia está a atravessar uma fase de contracção, o desemprego está em alta, as oportunidades são escassas e não há expectativas razoáveis de que o cenário venha a mudar tão cedo. Mas não é apenas a conjuntura recessiva que explica a situação. Há razões estruturais que se reflectem na menor procura por algumas qualificações e profissões. Têm a ver com o envelhecimento da população portuguesa e com os rápidos avanços tecnológicos que tornam obsoletas tarefas que já foram, pelo menos, mais relevantes.
Sobre estas matérias, Pedro Passos Coelho disse, numa entrevista ao "Correio da Manhã", duas coisas que parecem bastante evidentes. Referindo-se aos professores que não têm colocação pelo facto de haver cada vez menos alunos, sugeriu que tentassem encontrar outras saídas, através da formação profissional e da sua reconversão. Trata-se de uma realidade difícil de enfrentar, mas o facto é que, se já não existem empregos para toda a vida, também é verdade que começa a não haver profissões com prazo vitalício. Perante a crua realidade, adquirir uma qualificação é relevante, mas assegurar a empregabilidade e estar disponível para aprender a executar novas tarefas é ainda mais importante. E, por mais que custe admitir, isto não é válido apenas para os docentes.
Na mesma entrevista, o primeiro-ministro afirmou que "os professores podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa". Pode discutir-se se Passos Coelho devia ter dito o que disse e, até, ler nas suas declarações um convite para que os professores, ou qualquer outro português, optem pela emigração. Não há é motivos para escândalos ou para tirar da jaula a hipersensibilidade patriótica que já animou algumas reacções.
Se as declarações do líder do Governo têm algum aspecto relevante é o de não alimentarem novas ilusões sobre aquilo que professores ou outros desempregados podem esperar nos próximos anos. Mesmo que na frente externa tudo corra pelo melhor, o que exclui o cenário tenebroso de um colapso do euro, e que na frente interna as políticas sigam o caminho da perfeição, o que é duvidoso, os anos que se seguem vão ser de crise e de sacrifícios.
Nesta atmosfera, e havendo liberdade de circulação, é tão natural que as pessoas procurem saídas em mercados onde elas existam, como esperar que as empresas combatam pela conquista de posições nos mercados em que há negócios para concretizar. Seria preferível ter Portugal a crescer, pelo menos, o suficiente para evitar uma sangria de cidadãos em direcção ao estrangeiro? Seria. Mas, se alguém tiver a receita mágica, que avance e explique como se faz. Isso é que seria verdadeiramente patriótico."
João Cândido da Silva
Perante a crua realidade, adquirir uma qualificação é relevante, mas assegurar a empregabilidade e estar disponível para aprender a executar novas tarefas é ainda mais importante. E, por mais que custe admitir, isto não é válido apenas para os docentes.
Nos últimos anos, Portugal foi terreno fértil para semear e fazer crescer todo o género de ilusões. Da prosperidade baseada numa espiral de endividamento ao fim da necessidade de procurar soluções profissionais para lá das fronteiras nacionais, houve de tudo um pouco na promoção de sonhos e miragens que estouraram como bolas de sabão.
O futuro era tão radioso que o País se podia orgulhar de ter passado de uma nação de emigrantes para local de acolhimento de imigrantes em busca de uma carreira e de uma vida melhores. Mas o desenvolvimento era apenas aparente e assentava em pés de barro. Agora, não só os cidadãos estrangeiros estão a regressar às suas origens, motivados pela falta de perspectivas em território português, como o fenómeno da emigração regressou e vai subtraindo a Portugal gente qualificada, mas também mão-de-obra indiferenciada a que o mercado de trabalho não fornece respostas.
Esta tendência tem um motivo óbvio. A economia está a atravessar uma fase de contracção, o desemprego está em alta, as oportunidades são escassas e não há expectativas razoáveis de que o cenário venha a mudar tão cedo. Mas não é apenas a conjuntura recessiva que explica a situação. Há razões estruturais que se reflectem na menor procura por algumas qualificações e profissões. Têm a ver com o envelhecimento da população portuguesa e com os rápidos avanços tecnológicos que tornam obsoletas tarefas que já foram, pelo menos, mais relevantes.
Sobre estas matérias, Pedro Passos Coelho disse, numa entrevista ao "Correio da Manhã", duas coisas que parecem bastante evidentes. Referindo-se aos professores que não têm colocação pelo facto de haver cada vez menos alunos, sugeriu que tentassem encontrar outras saídas, através da formação profissional e da sua reconversão. Trata-se de uma realidade difícil de enfrentar, mas o facto é que, se já não existem empregos para toda a vida, também é verdade que começa a não haver profissões com prazo vitalício. Perante a crua realidade, adquirir uma qualificação é relevante, mas assegurar a empregabilidade e estar disponível para aprender a executar novas tarefas é ainda mais importante. E, por mais que custe admitir, isto não é válido apenas para os docentes.
Na mesma entrevista, o primeiro-ministro afirmou que "os professores podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa". Pode discutir-se se Passos Coelho devia ter dito o que disse e, até, ler nas suas declarações um convite para que os professores, ou qualquer outro português, optem pela emigração. Não há é motivos para escândalos ou para tirar da jaula a hipersensibilidade patriótica que já animou algumas reacções.
Se as declarações do líder do Governo têm algum aspecto relevante é o de não alimentarem novas ilusões sobre aquilo que professores ou outros desempregados podem esperar nos próximos anos. Mesmo que na frente externa tudo corra pelo melhor, o que exclui o cenário tenebroso de um colapso do euro, e que na frente interna as políticas sigam o caminho da perfeição, o que é duvidoso, os anos que se seguem vão ser de crise e de sacrifícios.
Nesta atmosfera, e havendo liberdade de circulação, é tão natural que as pessoas procurem saídas em mercados onde elas existam, como esperar que as empresas combatam pela conquista de posições nos mercados em que há negócios para concretizar. Seria preferível ter Portugal a crescer, pelo menos, o suficiente para evitar uma sangria de cidadãos em direcção ao estrangeiro? Seria. Mas, se alguém tiver a receita mágica, que avance e explique como se faz. Isso é que seria verdadeiramente patriótico."
Jornal de Negócios
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