domingo, 22 de janeiro de 2012

Excesso de chumbos ou de facilitismo?


Mais um artigo no Educare, onde se juntam opiniões de vários diretores sobre os resultados de um estudo do CNE.


"Excesso de chumbos ou de facilitismo?
Sara R. Oliveira | Educare


Estudo do CNE dá conta de um desfasamento etário dos alunos e de um corpo docente envelhecido. Responsáveis educativos pedem uma definição clara de objetivos e conceitos e lembram que "os conflitos sociais entram muito rapidamente na sala de aula".O relatório do Conselho Nacional de Educação (CNE) coloca o dedo em duas feridas: no desfasamento etário dos alunos e num corpo docente que está a envelhecer. Os números dão que pensar: em 2010, 42% dos alunos com 15 anos ainda não estavam no Ensino Secundário; no 3.º ciclo, 23,1% dos professores têm idade igual ou superior a 50 anos; no Secundário 21% têm 50 ou mais anos. O CNE transcreveu o que se passa no terreno e deixou algumas sugestões, nomeadamente reforçar a formação dos docentes e dar uma maior autonomia às escolas. O EDUCARE.PT escutou o que pensam os responsáveis educativos sobre as principais conclusões do CNE.

Maria Luísa Pereira, diretora da Escola Secundária de Rio Tinto, sabe que há alunos com 15 anos que ainda frequentam o 7.º ano de escolaridade. O desfasamento etário é um assunto que tem sido discutido várias vezes no seio da comunidade educativa. Será que o sucesso escolar passa por insistir na repetição de anos nos bancos da escola? A responsável recorda que neste tema há "dois discursos conforme a visão que as pessoas têm da educação". Isto é: o discurso dos que se concentram nos excessos de repetências e o discurso de quem acusa os professores de excesso de facilitismo. "É preciso que a sociedade defina o que pretende das suas escolas", afirma.

Para a diretora da Secundária de Rio Tinto, num momento de indefinição de políticas educativas, é necessário parar para pensar para que rapidamente se apontem caminhos. "Se está provado que insucesso gera mais insucesso, agora temos de discutir, a nível da sociedade, como vamos resolver o problema", refere ao EDUCARE.PT. Até porque, sustenta, há várias hipóteses que poderão ser analisadas, como encontrar alternativas de ensino mais precoces, diversificar a oferta já a partir do 7.º ano de escolaridade. "Ou assumir que os alunos vão repetir mais, em contraciclo com o que acontece noutros países", acrescenta.

A questão do corpo docente envelhecido não é, na opinião de Maria Luísa Pereira, uma responsabilidade dos professores, mas sim de orientações políticas que mexeram na idade da reforma. "Não é um problema dos professores, é da população em geral, sobretudo da administração pública, e que se prende com a idade da reforma". "É uma consequência política das deliberações relacionadas com a lei laboral", refere. Com as alterações, neste momento, os professores, teoricamente, têm de se manter ao serviço até aos 65 anos.

"A formação dos professores nunca pode ser descurada em qualquer fase do percurso", defende Isabel Coelho, diretora da Secundária de Avelar Brotero, em Coimbra. A recomendação do CNE faz, portanto, todo o sentido. A formação inicial e contínua é fundamental para que os docentes estejam atualizados, adaptados à realidade e disponíveis para darem as respostas que os momentos exigem. Até porque, realça, "os conflitos sociais entram muito rapidamente na sala de aula". E, na sua perspetiva, o novo Estatuto do Aluno provoca "ceticismo e descrença" quanto aos mecanismos que coloca à disposição dos docentes.

Isabel Coelho encara com "preocupação" o desfasamento etário dos alunos, referido no estudo do CNE. "É fruto dos tempos", diz, acrescentando que as escolas têm pela frente "um público cada vez mais diversificado" e que há situações mais complicadas resultantes de desfasamentos sociais. "É um reflexo desse puzzle". "O desinteresse dos alunos não é total", avisa. Um dos caminhos poderá ser a aposta nos cursos profissionais.

Para Júlio Santos, diretor da Secundária do Restelo, em Lisboa, há muitas perguntas a fazer, conceitos a definir, realidades a analisar. Em seu entender, a autonomia que se quer dar às escolas é uma palavra que estica e encolhe conforme as vontades. "Cabe lá tudo e não cabe lá nada", comenta. E, portanto, na sua opinião, há que definir com exatidão o que é autonomia, a sua dimensão, se se fala na gestão administrativa, se o aspeto pedagógico também pertence a esse contexto. "É uma realidade que tem de ser clarificada. O que é a autonomia? De que estamos a falar?".

As perguntas também surgem quando se afirma que o corpo docente está envelhecido. "Porque é que está envelhecido? Qual é a expectativa neste momento? Qual era a expectativa há oito anos?". Mais: "Hoje em dia um indivíduo com 60 anos é velho ou não, quando a esperança de vida tem aumentado?". Júlio Santos defende que se tem de começar por aqui, ou seja, por encontrar as respostas para diversas perguntas. As questões são pertinentes quando a realidade muda e os conceitos se mantêm. Além disso, é preciso perceber que "cada escola é uma realidade muito diferente". Portanto, é necessário entender que não se pode medir determinadas realidades "com instrumentos desadequados"."

Abraço!

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