segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Educação: o que é preciso?

"Educação: Os desejos para 2011


Sara R. Oliveira no site educare.pt

Professores desejam mais tranquilidade, escolas com mais autonomia, alunos motivados e famílias atentas aos sucessos e insucessos dos filhos. Dirigentes sindicais defendem uma educação de qualidade para todos.

O calendário segue o percurso dos dias e há desejos que sobressaem com o aproximar de 2011. O primeiro período das escolas terminou, as notas foram atribuídas, o segundo começa no início do novo ano. É tempo de análise. Para 2011, os professores pedem paz. Querem mais tempo para investir nos alunos e menos horas a preencher papelada. Querem menos instabilidade e escolas mais autónomas, com uma maior margem de manobra para apostar na competência. O ano de 2011 está à porta, é hora de fazer desejos.

Paula Canha, professora de Biologia e Geologia da Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, em Odemira, distinguida pelo Ministério da Educação com o Prémio Inovação há dois anos, deseja que em 2011 não se façam leis a pensar nas estatísticas de final de ano ou no orçamento que entretanto emagreceu. "O que desejo para a educação no próximo ano é um ministério que legisle apenas a pensar em longo prazo, em gerações bem formadas para o futuro", refere. A esperança faz parte do seu discurso. "Gostaria que todas as dificuldades por que estamos a passar não desalentem os professores sérios e empenhados, que eles continuem a achar que vale a pena, e que a falta de perspectivas de futuro não faça desanimar os alunos, mas os empenhe ainda mais num trabalho sério e criativo".

A professora deseja também escolas com verdadeira autonomia, que tenham nas mãos a escolha dos docentes e do restante pessoal pela sua competência. "E não uma falsa autonomia que passa para a responsabilidade da escola apenas algumas batatas quentes". Paula Canha gostaria de ver a classe docente a investir mais nos alunos e que os professores não passassem horas e horas em reuniões "a preencher formulários e a produzir planos e projectos sem fim", bem como famílias mais responsabilizadas pelos sucessos e insucessos dos filhos. "E alunos com mais vontade de construir o seu futuro com as suas próprias capacidades e trabalho."

Para Luís Sottomaior Braga, do agrupamento das escolas de Darque, em Viana do Castelo, e professor de História, é preciso, acima de tudo, saber o que se quer. "Estratégia em educação é a procura do bem comum e bem comum não é o bem do Governo. É pensar a 15 anos e não no horizonte do próximo PISA." Paz é um dos seus desejos. "O Governo, com Maria de Lurdes Rodrigues e seus acólitos e sucessores, apostou numa estratégia de confronto e divisão", recorda.

Na sua opinião, os problemas que o sector atravessa passam para o exterior como sendo culpa dos docentes. "Esse maniqueísmo bloqueador - fruto de marketing a mais e gestão a menos, na definição de políticas a nível superior - é uma das coisas que é urgente mudar". Motivar também é preciso e Luís Braga destaca essa componente. "A motivação dos agentes educativos preserva-se à força de sentirmos os nossos deveres como acções de interesse público. Essa motivação para o dever de educar e de contribuir para o interesse educativo é uma das coisas que se deve manter, apesar de a barca estar no meio da tempestade dos mercados e sofrer os embates das medidas desesperadas que agora se tomam", refere.

A crise não passa ao lado. Crise que, em seu entender, também atingiu a comunidade educativa, atacando, sustenta, de "forma corrosiva". "Corroeu solidariedade, motivação, perspectivas de longo prazo e sentimento de futuro". E a resposta surgiu com "visões de 'bola de sabão' ao nível das políticas macro e repercussão do desânimo nos agentes abaixo do nível central: escolas, pais, alunos, etc.". Por tudo isso, Luís Braga deseja uma mudança estrutural de espírito para que, explica, "os espíritos que conjunturalmente lutam continuem a fazê-lo".

Paulo Guinote, professor de História e de Português e autor do blogue "A educação do meu umbigo", gostaria que a educação "não se tivesse tornado o campo privilegiado para as experiências orçamentais do Governo", mas que se "mantivesse o pouco que resta de hábitos de companheirismo nas escolas". "Neste momento, gostaria que mudasse o clima de absoluta ansiedade que se começa a viver nas escolas, em relação à indefinição que existe em muitas áreas do sector, desde a reorganização do currículo à concentração da rede escolar, passando pela forma 'feudal' em que passou a ser gerida a educação, sem que pareça existir um centro decisor próprio", afirma.


Governantes "iluminados"

Políticas responsáveis e governantes "iluminados" que cuidem bem da educação e do país. Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), deseja que em 2011 os responsáveis políticos ponham a mão na consciência para que "percebam o mal que estão a fazer às escolas e à educação". Algumas medidas constantes no Orçamento do Estado para o próximo ano, relativamente ao sector, têm merecido duras críticas dos dirigentes sindicais e Mário Nogueira não tem dúvidas que terão consequências "ao nível da própria qualidade de ensino". "Além disso, "terão um impacto no desemprego: milhares de professores virão para a rua", sustenta. Para 2011, o porta-voz da FENPROF não deseja bens materiais. Mas sim "um anjo da guarda que fizesse aquelas cabeças pensantes terem a noção de que, de facto, as medidas vão ficar para a História como o maior atentado que foi feito à educação e ao ensino do país".

João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE), deseja que os princípios da coesão social não fiquem esquecidos durante o próximo ano. "Que se trabalhe no sentido de uma educação de qualidade para todos, que se combata o insucesso escolar e que se valorize e dignifique os trabalhadores da educação", afirma.

João Grancho, presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), tem vários desejos para 2011 na área da educação. Gostaria que o sector deixasse de funcionar "como um palco de afirmação política" e que se empenhasse no que interessa, ou seja, na "valorização da Educação". "Que o ano de 2011 não fique marcado como o 'ano horribilis' do desemprego para os professores, com as medidas que se desenham", avisa. O responsável gostaria de assistir à estabilização das políticas educativas, para que o consenso educativo fosse, de facto, uma realidade.

No próximo ano, a ANP vai insistir na auto-regulação da profissão. João Grancho considera este ponto fundamental. A ideia é que a classe docente tenha uma entidade representativa para cuidar dos assuntos que lhe dizem directamente respeito. Para cuidar da dignidade. Este é um dos assuntos que marcará a agenda da ANP em 2011."

Quanto disto se vai tornar realidade?

Abraço!

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